Sobre o design do livro Longas Cartas pra Ninguém

Emocional e expressionista foi a abordagem gráfica buscada neste projeto. Uma conceituação criada através do diálogo entre editor, ilustrador e designers, que buscaram, como numa sinfonia, o harmônico que faz do livro um objeto de desejo.

O ponto de partida, imagens criadas por Salmo Dansa: colagens feitas de um velho jogo de Tarôt. Jogo da vida ou da morte, do azar ou da sorte, também lançou a forma que estrutura as páginas em molduras e as aberturas de capítulos, em portais. A primeira “porta” mergulha o leitor no ambiente vermelho de adrenalina e euforia, a segunda afunda-o no roxo da depressão e a terceira o liberta para o verde da vida que se renova.

Para sustentar o pensamento intenso do narrador, escolhemos uma família tipográfica cujo nome, Kinesis, já remete a movimento. Uma corredeira caudalosa interrompida por fortes quedas d’água é a metáfora visual que buscamos. O desenho gestual, porém bastante legível, da fonte Kinesis Regular e o incisivo-agressivo da Kinesis Semibold Italic, que inicia os capítulos, são uma tradução visual deste conceito.

A mancha de texto diferencia-se da tradicional em dois aspectos: um alinhamento apenas à esquerda e parágrafos marcados por um recuo negativo. Conhecido também por “parágrafo francês”, este tipo de recuo foi escolhido em função do discurso e da estrutura sintática do texto: frases curtas começando com palavras-chave fortes como Morte, Vida, Livre, Gritei etc. Ideias fragmentadas, tópicos, exclamações, suspiros.

É desta forma que, através dos métodos e recursos do design, buscamos unir forma e conteúdo. Esperamos que o leitor aprecie este objeto gráfico tanto quanto todos os envolvidos na edição do livro apreciaram criá-lo.